Mestre Renato Foto: Francisco Cadaval
Mestre Renato Foto: Mario Neto
Mestre Renato Foto: Mario Neto
Mestre Renato Foto: Mario Neto
Mestre Renato Foto: Mario Neto
Mestre Renato Foto: Mario Neto
Mestre Renato Foto: Mario Neto
Mestre Renato Foto: Mario Neto
Mestre Renato Foto: Mario Neto
Mestre Renato Foto: Francisco Cadaval
Mestre Renato Foto: Mario Neto
Mestre Renato Foto: Mario Neto
Mestre Renato Foto: Francisco Cadaval
Mestre Renato Foto: Mario Neto
"Com saúde frágil, seu Terno não sai mais às ruas, mas não somente por isso.
Aos poucos, seus companheiros foram perdendo o interesse ou se envolvendo em trabalhos que não lhes permitem tempo. Com isto, seu Terno hoje é memória e um álbum de fotos e colagens, ainda sem proteção contra mofo e umidade."
Solidão. É lá onde moram Mestre Renato e sua esposa, Maria Teresa. Localidade do interior da cidade de Maquiné, a Linha Solidão é mais do que um lugar, é um estado de espírito. Sobe e desce morro. Lá no topo, uma casinha simples, escondida em meio à plantas, cachorros e galinhas. Uma oficina e uma nova casa, ainda em construção, dividem o terreno. São felizes, fazem companhia um ao outro e dialogam com seus silêncios, que lá são mais singelos do que em qualquer outro lugar.
Mestre Renato é luthier (construtor de instrumentos) de rabecas, violinos, violas, cavaquinhos e bandolins. É mestre de Terno de Reis, tradição do ciclo natalino, que veio para o Brasil, mais precisamente no Rio Grande do Sul, com os
açorianos. Em 2009 recebeu o Prêmio Culturas Populares Dona Isabel, iniciativa do Ministério da Cultura. Com saúde frágil, seu Terno não sai mais às ruas, mas não somente por isso. Aos poucos, seus companheiros foram perdendo o interesse ou se envolvendo em trabalhos que não lhes permitem tempo. Com isto, seu Terno hoje é memória e um álbum de fotos e colagens, ainda sem proteção contra mofo e umidade.
Renato não é de falar muito. Quando os equipamentos de gravação estão ligados, se sente acanhado, fica tímido. Sem eles, se abre um pouco mais, pega os seus instrumentos, afasta as teias de aranha, dedilha algumas coisas. Como ele mesmo disse, seus dedos estão ‘enferrujados’. Doente, não tem mais se dedicado à música. Mas também não se esquece dela. Tenta se justificar, mas nem precisa: música é igual andar de bicicleta.
Desde pequeno se ‘gamou’ em instrumentos de cordas. Aos poucos, foi aprendendo os instrumentos do Terno, dominando cada um deles. Tentou o acordeon, mas não deu certo. Depois, começou a construí-los, assim encontrando também uma possibilidade de renda. Mas não parece que tinha na comercialização dos seus instrumentos um propósito financeiro. Talvez de forma inconsciente, mas dá para se dizer que a sua busca na fabricação e venda de instrumentos era para poder estar perto das pessoas, deixando para elas o seu carinho.
Dentro de sua casa, um velho aparelho de televisão, desses ainda de tubo, transmitia, via antena parabólica, um programa de modas de viola, provavelmente do interior paulista. É o que gosta de escutar, onde seus ouvidos se sentem felizes. Em meio aos pingos de chuva por sobre um plástico que estanca as goteiras da casa, os latidos dos cachorros e cacarejos das galinhas, o silêncio da Solidão é uma festa ao som da viola, amplificada pelo avanço da idade.
Da época do Terno, conta que se reuniam em qualquer encruzilhada. Passavam na casa de um, de outro, e assim se organizavam. Até em boteco tocavam. Quem ainda o acompanha, vez em quando, para que o Terno tenha fôlego, é o seu filho, que mora longe. Evangélico, se afastou do grupo, mas por seu pai e para que a tradição não morra, o faz companhia quando solicitado.
O palco de mestre Renato sempre foi a Solidão e sua vizinhança. Fazia serenata e animava os bailes nas casas dos moradores. Primeiro, só com violão. Depois é que chegaram os gaiteiros, o que facilitou muito. Rancheiras, valsas e xotes eram as músicas mais pedidas. Mas nunca gostou de se ‘vestir de gaúcho’, não faz o seu tipo. Sua identidade é outra.
Nascido e criado no mesmo terreno onde vive até hoje, convive com alguns dos escombros de sua infância, quando um engenho de cana compunha o cenário. Aos poucos vai construindo sua casinha nova, maior e mais segura, pois a outra já está muito velha. Embora a atual tenha alguns problemas, não parece ter pressa, vai na velocidade que o seu tempo permite. De madeira, é ele mesmo quem martela cada um dos pregos, e assim vai montando as peças. De qualquer forma, e por mais nova que seja, será uma casa onde as paredes já nascem cheias de histórias: cada uma delas foi erguida pelas mesmas mãos que deram luz a tantas notas musicais, suas e de quem mais pode ter um de seus instrumentos.
texto: Lucas Luz
patrocínio
realização
produção
financiamento