"Com fé na humanidade, vivendo da música, pela música e com a música. Luiz Vagner não é um homem que tem um enorme coração. É um coração gigante onde mora o homem Luis Vagner e quem puder lhe acessar. Essa é a sua generosidade."
Luís Vagner Foto: Lucas Luz
Luís Vagner Foto: Lucas Luz
Luís Vagner Foto: Lucas Luz
Luís Vagner Foto: Lucas Luz
Luís Vagner Foto: Francisco Cadaval
Luís Vagner Foto: Lucas Luz
Luís Vagner Foto: Mario Neto
Luís Vagner Foto: Mario Neto
Luís Vagner Foto: Mario Neto
Luís Vagner Foto: Lucas Luz
Muito mais do que música e boas histórias: generosidade. Essa é a maior entrega do ser-humano Luis Vagner, simples por essência, grande pelos caminhos pisados. Difícil definir qual metade deste artista nos chamou atenção, é um homem plural. Sua música não é passageira, é para permanecer. Não é possível dizer, de forma alguma, que este é mais um dos tantos artistas gaúchos confinados em um gueto. Embora a música por ele executada não faça parte do mainstream, já foi gravado por alguns dos mais importantes artistas da música popular brasileira, além de já ter colaborado com muitos outros.
A gravação com Luis Vagner foi realizadas em um único dia. Intenso, vale dizer. Luis é uma pessoa cheia de amor, disposta a ‘fazer o que tem que ser feito’, visceral. Participa do processo, sabe o que é importante ser dito. E sabe que
isso transcende a sua carreira e a música. Com ele circulamos pela Porto Alegre de agora e também pela Porto Alegre dos anos 1960, que nem mesmo em escombros existe mais, mas sim em seus afetos e nos encontros que ocorreram.
No bairro Santo Antônio, em uma área que pode ser considerada Partenon (território fundamental para o entendimento da música negra do Rio Grande do Sul), visitamos o local onde antes havia a primeira casa em que morou neste bairro. Dali, pediu que o levássemos a uma outra rua próxima. Lá, sem vergonha alguma, chegou batendo palmas, chamando ‘ô de casa’, pedindo informações. Em poucos minutos, sua turma de adolescência estava reunida. Deu para ver no canto de seus olhos um brilho líquido, não recordo se escorreu, o que também não faria diferença alguma. Pêlos em pé.
Da sua musicalidade, nos contou sobre quando ainda criança via os ‘nego véio’ tocar. É deles que vem o seu suíngue. Diz ainda que sua mão direita, a que confere o seu ritmo, como um cérebro pensante é influenciada pela música gaúcha de baile, a famosa ‘vaneira’. É essa mesma mão, sob esta mesma influência, que conferiu as principais características do suíngue gaúcho, para alguns "sambalanço" e posteriormente definido como "samba-rock". Apenas para agregar informação e pensar nas diversas conexões existentes entre as músicas do mundo, vale dizer que a vanera gaúcha é influenciada pela habanera cubana, que desceu pela continente latino americano até firmar raízes próprias no Rio Grande do Sul.
O rock`n roll é outra importante marca em sua vida. Embalado pela onda do momento, forma com mais outros 4 integrantes o conjunto ‘The Jetsons’. Quando migram para São Paulo, passam a se chamar ‘Os Brasas’. Com algumas mudanças de integrantes, este conta até com a participação de Franco Scornovacca, hoje produtor e empresário musical, mais conhecido por ser pai do trio KLB.
Dessa época em diante, sua produção não parou mais. Como músico, produtor ou em carreira solo, foram muitos os trabalhos e parcerias, além de diversos artistas gravando suas músicas. Citando apenas alguns dos nomes, Ronnie Von, Cassiano, Paulo Diniz, Wilson Simonal, Luiz Américo, Fábio Jr., Wando. Gravou e acompanhou artistas como Tonico e Tinoco (que com apenas duas violas incendiavam concertos nos quais a música eletrificada era o foco), Jorge Ben, Erasmo Carlos, João Nogueira, Martinho da Vila, Os Originais do Samba, Gretchen, entre outros.
Em 1979, em seu disco ‘Fusão das Raças’, gravou uma inusitada versão de ‘Garota de Ipanema’, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Sobre esta, contou que estava na França, lendo um jornal, no qual uma matéria falava sobre tal gravação, quando alguém atrás de suas costas passa a ler o jornal junto. Era o próprio Antônio Carlos Brasileiro Jobim.
Tem uma de suas maiores influências no sambista paulista Germano Mathias. Este, por sua vez, afirma que sua maior referência é Caco Velho, sambista gaúcho que, reza a lenda, foi a inspiração para Walt Disney criar o personagem Zé Carioca. Vagner fala sobre o ‘jeito’ gaúcho de tocar samba, e fica triste porque diziam que gaúcho não faz samba. Ao contrário do que a mídia deixava passar, o estereótipo do ‘gaúchão de bigodão’, sempre teve certeza da maciça presença negra no Rio Grande do Sul, bem como da contribuição deste povo para a cultura do estado.
As ideias e posicionamentos que apresenta, possuem fundamento. A maior parte dele construído a partir de suas próprias vivências, que sempre transitaram por diversos ambientes. Provavelmente, não apenas pelas suas qualidades musicais, mas principalmente por sua enorme empatia e gentileza.
De 20 anos para cá, importantes grupos/artistas do cenário contemporâneo da música brasileira regravaram suas músicas, como Papas da Língua, Ultramen e Clube do Balanço. Agora em 2016, produziu e gravou parte do novo álbum da banda gaúcha de reggae-pop Chimarruts. Há cerca de 3 anos retornou para Porto Alegre, onde está concluindo dois álbuns que há anos vem gestando: o primeiro, chamado ‘Samba, rock, reggae, rhythms em blues e outras milongas mais’, e o segundo, ‘Música Planetária Brasileira’.
Ambos os álbuns já têm bem estabelecidos em seus títulos a estética musical de cada um. Por mais amplo que possa parecer, é exatamente o que sua música é. Atemporal, pura arte, ligada ao eterno. Dialoga com o universo e com suas pessoas, sem restrições. Com fé na humanidade, vivendo da música, pela música e com a música. Luiz Vagner não é um homem que tem um enorme coração. É um coração gigante onde mora o homem Luis Vagner e quem puder lhe acessar. Essa é a sua generosidade.
texto: Lucas Luz
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